domingo, 20 de setembro de 2009

Giordano Bruno 1548-1600


Giordano Bruno nasceu em Nola, perto de Nápoles na Itália. Ele tornou-se religioso dominicano e estudou a filosofia aristotélica. Atraido pelo pensamento não ortodoxo, Bruno logo teve que deixar Nápoles, em 1576, e Roma, em 1577, para escapar da "Santa Inquisição". Ele foi então para a França, onde viveu até 1583. Depois mudou-se para Londres onde permaneceu até 1585.

Bruno estava vivendo em Londres quando conheceu o livro de Thomas Digges. Ele prontamente adotou as ideias ali contidas, que falavam de um universo sem contorno, e voltou sua atenção para a conclusão lógica, previamente mostrada por Nicolau de Cusa, de que o universo também não possui centro.

Giordano Bruno procurou desenvolver os ensinamentos de Copérnico de uma maneira filosófica. Seu maior trabalho foi divulgar, com veemência, essas ideias. Giordano foi um forte crítico das doutrinas de Aristóteles e Ptolomeu tornando-se um dos grandes defensores das teorias de Demócrito e Epicuro.

Ele rejeitava os ensinamentos de Aristóteles que diziam que o universo era finito, Ele também criticava a ideia de que havia um centro absolutamente determinado no universo. Giordano Bruno deve ser considerado o principal representante da doutrina do Universo descentralizado, infinito e infinitamente povoado. Ele não só a apregoou em toda a Europa Ocidental com o fervor de um evangelista como foi o primeiro a formular sistematicamente as razões pelas quais ela, mais tarde, foi aceita pela opinião pública.

Giordano Bruno escreveu vários livros:

  • Candelaio (1582)
  • De umbris idearum (1582)
  • Cena de le Ceneri (1584)
  • De la causa, principio e uno (1584)
  • De l'infinito, universo e mondi (1584)
  • Spaccio de la bestia trionfante (1584)
  • De gli eroici furori (1585)
  • De minimo (1591)
  • De monade (1591)
  • De immenso et innumerabilis (1591)

Em 1584 Giordano Bruno escreveu seus mais importantes trabalhos. No seu livro "La Cena de le Ceneri" Giordano Bruno apresenta a melhor discussão e refutação, escrita antes de Galileu Galilei, das objeções clássicas, sejam elas aristotélicas ou ptolomaicas, contra o movimento da Terra. Nesse texto ele defendia com ardor a teoria heliocêntrica.

No seu livro "De l'infinito, universo e mondi" ele afirma de maneira precisa, resoluta e consciente que o espaço é infinito. Ele também tem a ousadia de afirmar que movimento e mutação são sinais de perfeição e não de ausência de perfeição. Um universo imutável seria um universo morto. Um universo vivo tem de ser capaz de mover-se e de se modificar.

Segundo Bruno, como poderia o espaço "vazio" deixar de ser uniforme ou vice-versa, como poderia o "vazio" uniforme deixar de ser ilimitado e infinito? Do ponto de vista de Bruno a concepção aristotélica de um espaço fechado no interior do mundo é não apenas falsa, como absurda. Nesse livro, Giordano Bruno também afirma que o universo contém um número infinito de mundos, habitados por seres inteligentes.

As afirmações de Giordano Bruno eram avançadas demais para a época em que ele vivia. Ao contrário de Digges, Giordano Bruno não imergiu os corpos celestes nos céus da teologia: ele nada nos fala sobre anjos e santos. Isso era demais para ser tolerado.

Em 1591 Giordano Bruno mudou-se para Veneza onde foi preso pela Inquisição e julgado. Devido às suas declarações Giordano Bruno foi enviado para Roma, para um segundo julgamento, onde permaneceu preso em uma cadeia eclesiástica e foi continuamente interrogado até o ano 1600. Após ter sido torturado, e bravamente ter se recusado a se retratar das idéias que propagava, Giordano Bruno foi queimado vivo em uma praça pública no ano 1600 em Roma, Itália.

BRUNO, Giordano. Do imenso e dos inumeráveis [1591]

Os sentidos não nos elevam ao infinito nem favorecem o conhecimento que temos deles, uma vez que isso não lhes compete, mas estupidamente só a molestadora turba do Sofista [Aristóteles] poderá considerar que aquilo que se expressa pelos sentidos seja a verdade…


Age igualmente como insensato quem afirma que com os sentidos se pode demonstrar a limitação do universo, uma vez que para além da extrema órbita das estrelas fixas não existe nenhum corpo luminoso que eles possam indicar; como se alguém afirmasse que se pode identificar o limite de um bosque com os sentidos porque não se enxergam as árvores mais adiante.


Mas nós, ao contrário, dizemos que podemos perceber pelos sentidos a infinitude do universo, uma vez que os sentidos sempre deslocam o centro do horizonte para a periferia do horizonte e fazem dele seu companheiro inseparável: de modo a fazer que seja centro qualquer ponto da periferia (quando se tenha deslocado para a periferia).


Portanto, os sentidos ensinam que, se estivéssemos sobre qualquer outro astro, nós estaríamos, igualmente, no centro, e dali a Terra também pareceria encontrar-se sobre um ponto da circunferência…


O centro do espaço infinito pode ser determinado em qualquer lugar. De qualquer lado, efetivamente, se estende uma igual grandeza. É preciso, portanto, convencer-se de que o que paira sobre os corpos na natureza não é um limite, mas a harmonia da vida, contemplada pelos sentidos e pela alma que está neles…


Chamamos fixo um astro que brilha. Assim parecem, efetivamente, os corpos luminosos em relação aos planetas: mas quem conseguisse observar o seu corpo com olhar mais penetrante que o do vulgo poderia facilmente negar que, com exceção dos sete planetas, todos os outros mantêm uma distância igual da órbita sobre a qual se encontra o ponto de observação.


Compare, efetivamente, uma das estrelas menores com uma estrela da Virgem ou com qualquer grande estrela que esteja mais distante daquela: em diversos momentos a verás a distâncias diversas…


Dissolve-se assim a imagem de um céu que mantém fixas as suas estrelas com firmes liames e que arrasta em um único movimento todos os corpos celestes aos quais não seria permitido se mover por uma força interior mais do que é permitido se mover a um nó da madeira, se a madeira permanece parada. Portanto, considera finalmente de que modo se possa fender a atmosfera imutável (poder fendê-la está fora de nenhuma dúvida) e livra-te desses infelizes delírios dos Sofistas.


O espaço, portanto, é sulcado de modo a não resultar vazio é tampouco completamente cheio, e, na verdade, uma determinada substância preenche o espaço, é acessível a todos os corpos; nela, os corpos do mundo podem ser submetidos às leis eternas do movimento e da quietude.


A perfeição das coisas não foi oportunamente atribuída a este mundo pelos sentidos e pelas suas afirmações. Como puderam pensar que estivessem encerradas em um espaço limitado todas as coisas que, infinitas, podem acontecer em qualquer lugar, sempre em tão grandes e tão vastos espaços? Mesmo admitindo que exista um homem tão grande, dotado de um engenho igual ao da totalidade dos homens, o que impede que existam outros homens que participem da sua perfeição na ordem do gênero e nas partes da matéria que assim se difunde?


Fontes: Observatório Nacional e Mundus Est Fabula


2 comentários:

  1. Prezado Rubão,
    Muito bom o relato que você promove de Giordano Bruno.
    Gostaria de saber como faço para obter mais histórias/informações da Itália na época de 1600?
    Um Abraço,
    Luiz Alexandre

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  2. Olá Alex.
    Obrigado pelo comentário. É de extrema importância que pensamentos do calibre de um Giordano Bruno sejam preservados para sempre. Sobre a pesquisa que vc faz da Itália, procure bibliotecas de Universidades, sempre tem muita informação guardada nesses locais. Espero ter contribuído para seu crescimento intelectual. Forte abraço!!

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