quinta-feira, 22 de março de 2018

Por que o Brasil de Marielle importa tanto?


Nos últimos cinco anos assistimos diversas mudanças no comportamento da sociedade brasileira, especialmente após as manifestações ocorridas em 2013. De lá para cá, muita coisa aconteceu, mas, de imediato, a impressão geral era de que tudo havia voltado à "normalidade", ou seja, à velha postura geral, de desinteresse pela coisa política e das ações que interferem na vida de todos.

Só que nos últimos tempos, especialmente após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, ocorrido em 2016, a população brasileira tem dado sinais de que de fato, todos estamos, mesmo que de maneira totalmente equivocada, envolvidos e participando das questões políticas. Nos últimos meses teve início uma verdadeira enxurrada de postagens, opiniões e diversos tipos de casos de envolvimento político, por parte da população comum. Cada um expressando seus posicionamentos e dando início a um embate ideológico entre as chamadas direita e esquerda. O que quero analisar aqui, não é a validade ou não, de candidato A, B ou C, mas sim, a atitude da população, em sua relação com a política e os possíveis impactos disso, inclusive nas relações democráticas globais.

Me parece que o surgimento dos atuais candidatos de extrema direita, deram nova voz a uma parcela da população que, desde o fim da infame ditadura civil-militar (1964-1985), esteve recolhida aos seus "guetos", onde eles não puderam externar livremente seu posicionamento, inclusive de apologia abertamente nazi-fascista. Acontece que, após a oficialização de um candidato, que prega abertamente, seus discursos de ódio contra grupos específicos da sociedade, essa população, até então "marginalizada", sentiu que de repente, poderia falar e tal qual ocorreu com a chamada esquerda, no período pós 1985, agora eles podem respirar livremente e soltar seu grito reprimido por tanto tempo.

Na última semana, o fatídico episódio do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, fez com que vários setores da sociedade externassem seus posicionamentos ideológicos, via redes sociais e também nas ruas pelo país. Eis que, de repente, ouviu-se a voz de policiais, juízes, desembargadores e uma grande leva de pessoas, que nem sequer sabiam de fato, de que se tratava todo aquele alvoroço. Foi possível observar como é que as pessoas, inclusive aquelas que são responsáveis por zelar pela segurança da população, julgar, ou legislar, pensam no mais profundo de seus subconscientes. Até então, havia no senso comum, a ideia de que essas pessoas não externavam seus pontos de vista, justamente por conta de suas posições ou cargos.

Agora ficou bem claro, para o mundo todo ver, como é que o Brasil funciona de fato. A hipocrisia que todo brasileiro conhece desde cedo, agora foi escancarada sob a luz da liberdade de expressão. Os últimos dois ou três meses, trouxeram à baila, o DNA da formação do povo brasileiro, com todo o seu rancor, diferenças sociais, e claro, a sua beleza também. Entre as muitas manifestações de intolerância, também foi possível assistir e ler que há uma parcela da população que já conseguiu dar o salto qualitativo e se desprender do ranço da mentalidade escravista, da hipocrisia religiosa e passar a lidar e conviver com a diferença de forma mais harmoniosa. Daqui por diante, é possível que tenhamos uma mudança, para melhor nesse sentido, da tolerância e do respeito àquele que pensa de maneira diferente do grande rebanho.

Porém, ainda existem fatos que podem nos levar a uma leitura pessimista para o Brasil no século XXI. Parece que estamos diante de uma grande mudança e, grandes mudanças quase sempre acontecem depois de cataclismos. A própria história brasileira é repleta de eventos que foram catastróficos e precederam mudanças radicais. É possível que tenhamos inclusive, que enfrentar uma guerra civil, que não seria boa para ninguém, mas, diante do porte das divergências que se evidenciam, é possível que essas diferenças só possam ser resolvidas através do caos absoluto, afinal, estamos diante de ódios e diferenças seculares que sempre foram mascaradas, em nome da "boa convivência" geral. Existe muita intolerância que foi encoberta por séculos, sob o manto da hipocrisia e, é justamente esse fenômeno que, talvez tenha chegado o momento do Brasil encarar de frente, para só então superar e seguir adiante. Mas qual será o preço a se pagar, por essa metamorfose social?

A intolerância racial, por exemplo, demonstra que os quase quatrocentos anos de sistema escravista não ficaram limitados ao contexto do século XIX, quando a escravidão foi tornada ilegal. Ela ainda persiste, inclusive no âmago de nossas instituições governamentais e inclusive a nossa cultura é permeada pela mentalidade escravista e escrava. Ainda somos uma nação muito jovem e, como tal, ainda estamos nos acostumando com o novo, ou seja, com o modelo diferente daquele que fundou toda a nossa forma de ser, enquanto nação. Essas palavras, já não são mais algo a ser desvendado por cientistas sociais ou filósofos, o senso comum já está de posse dessas informações e já construiu o seu ideário. Aqui a internet cumpriu e cumpre seu papel muito bem. Resta entendermos agora, quais serão os processos para se chegar à concretização desse país ideal, que sempre fez parte dos desejos mais profundos de sambistas, escritores, artistas e de qualquer um que queira compartilhar um lugar saudável para se viver.

Mas, por que essas mudanças importam tanto? Porque a meu ver, será do modelo criado a partir dos escombros desse Brasil em que vivemos hoje, que o mundo vai direcionar seu modelo democrático. Sim, estou sendo bastante pretensioso em minha análise, pois, acredito que o modelo democrático atual, tenha muito a aprender com as experiências brasileiras. As maiores potências globais da atualidade não têm interesses apenas e tão somente exploratórios, sobre o Brasil. Penso que podemos demonstrar ao mundo como se cria uma nação, com mais justeza, essencialmente por sermos jovens e ainda termos inúmeras opções pela frente. Somos uma espécie de laboratório para a democracia global.

É possível que essa nova sociedade brasileira já tenha se iniciado, bem debaixo dos nossos olhos, porque os eventos atuais demonstram que vivemos um período de disputa intensa, mas também é fato que qualquer um dos lados, aos ser vencido, não se dará por derrotado e é possível que esse seja o começo dessa mudança radical. Podemos fazer milhares de ilações sobre a influência internacional, nas próximas decisões políticas, mas há uma grande vontade, especialmente entre os mais jovens, de modificar o atual cenário, onde as instituições estão se desintegrando e os representantes públicos já não são capazes de responder aos anseios das diferentes populações. Vivemos em um tempo onde o modelo já moribundo, se mantém apenas pelas conveniências de grupos que ainda detém o poder econômico, mas é possível que esse modelo também esteja com seus dias contados. Assim sendo, acredito que é uma questão de tempo, até o próximo jovem genial surgir para apresentar ao mundo um novo esquema, onde essas regras atuais não farão o menor sentido.


Rubens Almeida é professor de Filosofia da rede pública de ensino paulista, desde 2006.




quarta-feira, 14 de março de 2018

Stephen Hawking (1942-2018)


A manhã desta quarta-feira, 14 de março de 2018, ficará marcada para a posteridade, como o dia em que a mente mais brilhante desde Einstein se foi. Stephen Hawking nasceu em 8 de janeiro de 1942, exatamente 300 anos após a morte de Galileu Galilei e morre no mesmo dia em que Albert Einstein veio à este mundo.

Já há vários anos, Hawking era comparado a outros grandes nomes da ciência, entre eles o próprio Einstein, Issac Newton, Galileu Galilei e tantos outros que deixaram sua contribuição para o desenvolvimento humano.

Stephen Hawking era físico, cosmólogo, além de um grande desafiador dos limites humanos e da própria ciência, uma vez que, aos 21 anos foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e desde então, os médicos lhe deram apenas mais três anos de vida.

Uma de suas obras mais famosas é o livro Breve História do Tempo, de 1988, que se tornou um best-seller e vendeu mais de 10 milhões de exemplares, em todo o mundo. Suas teorias então passaram a ser apreciadas por pessoas em todo o mundo, mesmo as que não fossem exatamente acadêmicas.

Uma de suas afirmações mais ousadas foi a respeito da Teoria Geral da Relatividade de Einstein, que, segundo ele, implicaria que o espaço e o tempo teriam um início no Big Bang e um fim nos buracos negros.

Apesar de todas as limitações, Hawking não deixou de se aventurar mundo afora. Conheceu a Antártida e, em outra oportunidade participou de um voo, onde experimentou a gravidade zero. Apesar de toda a seriedade e importância de seu trabalho, Hawking sempre foi uma pessoa com um grande senso de humor e, nunca deixou de fazer piadas consigo mesmo, em sua página na internet.

Em 2014, sua vida foi retratada no cinema, com o filme A Teoria De Tudo. Inclusive naquele momento, Hawking fazia piadas de si, como em uma entrevista, onde ele disse que não podia sair para nenhum lugar sem ser reconhecido, pois não era possível esconder-se atrás de óculos escuros, já que sua cadeira o denunciava. Muito obrigado e descanse em paz, Dr. Hawking.