segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Arqueólogos acham objetos do século 19 na cracolândia

24/09/2009 - 09h21

RICARDO WESTIN
da Folha de S.Paulo


Um grupo de arqueólogos descobriu 2.344 utensílios domésticos do século 19 soterrados em plena cracolândia, a área mais degradada do centro de São Paulo.


Foram encontrados pratos, xícaras, moringas, vasos, potes e até penicos, entre muitos outros objetos, feitos de materiais como porcelana, cerâmica, louça e vidro e que ajudam a contar a história da cidade. A maior parte está despedaçada e será reconstruída.


Divulgação
Fragmentos de pratos de decoração do século 19 que foram encontrados no local, em uma área de 7.000 metros quadrados
Fragmentos de pratos de decoração do século 19 que foram encontrados no local, em uma área de 7.000 metros quadrados


"Foi uma grande surpresa. Normalmente não passa pela cabeça de um arqueólogo encontrar tantos vestígios tão bem preservados numa cidade como São Paulo", afirma Paulo Bava Camargo, do grupo Zanettini Arqueologia.


Localizada no meio de uma região onde hoje vagueiam viciados em crack --daí o apelido cracolândia--, a quadra em questão é delimitada pelas ruas Timbiras, Andradas, Aurora e General Couto de Magalhães e tem 7.000 metros quadrados. No local funcionou um estacionamento até o ano passado, quando o quarteirão foi desapropriado pelo Estado.


Ali serão erguidas uma escola técnica e a nova sede do Centro Paula Souza (entidade responsável pelas escolas técnicas e pelas faculdades de tecnologia estaduais). O governo de São Paulo quer os edifícios prontos até o fim do ano que vem.


Por exigência da legislação, o Centro Paula Souza teve de realizar uma avaliação arqueológica no terreno. Os arqueólogos foram à cracolândia em junho passado e viram vestígios de 150 anos atrás brotar logo nas primeiras escavações.


20 réis


Entre os achados há objetos nacionais e importados. Alguns são finos, cuidadosamente pintados a mão. Outros são rústicos e até mesmo defeituosos. Isso sugere que naquela quadra conviviam ricos e pobres.


"No final do século 19, São Paulo estava dividida. Havia os Campos Elíseos e a República, áreas de ocupação mais nobre, e o Bom Retiro, onde viviam os imigrantes, os trabalhadores. Era no meio delas que se dava o encontro [das classes sociais]", explica Bava Camargo.


Essa região era o coração de São Paulo. A poucos passos estão as estações ferroviárias da Luz e Júlio Prestes, construídas justamente naquela época.


No quarteirão escavado também foram encontradas pás, machadinhas, ferraduras e moedas -uma é de 20 réis, em cobre, e circulou entre 1868 e 1871. Isso mostra que, além de residencial, a área também tinha comércio. Os arqueólogos creem na existência, por exemplo, de uma estrebaria.


Segundo o arqueólogo Bava Camargo, o fato de não haver um sistema organizado de coleta do lixo -São Paulo só contou com esse serviço na virada para o século 20, em resposta a uma epidemia de febre amarela-, as famílias enterravam ou simplesmente atiravam os entulhos no quintal de casa.


O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) analisará o relatório redigido pelos arqueólogos para decidir o destino dos objetos históricos. Paulo Zanettini, o líder do grupo que fez as escavações, gostaria de vê-los expostos na própria região da Luz.


"Descobertas desse tipo mostram que o passado de São Paulo é muito mais rico do que se imagina", diz Bava Camargo.



Fonte: Folha Online



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