sábado, 31 de outubro de 2009

Deputados que assinaram CPI contra o MST receberam dinheiro da Cutrale


Quatro deputados federais que assinaram a CPMI receberam doações da empresa que monopoliza o mercado de laranja do Brasil e acumula denúncias na Justiça.

28/10/2009
Nilton Viana
da Redação

De tempos em tempos as elites mostram suas garras contra os pobres. E pobres que se organizam para lutar por justiça, melhores condições de vida e reforma agrária entram na mira furiosa da classe dominante. Os trabalhadores rurais sem terra têm sido sistematicamente atacados. Suas organizações e todos aqueles que lutam pela democratização da terra no país tem sido permanentemente criminalizados.

No episódio mais recente, no qual famílias que ocuparam uma área pública grilada pela empresa Cutrale – maior exportadora de sucos do país – destruíram pés de laranjas, os latifundiários, a mídia e todos os seus asseclas dispararam todos os seus canhões contra os sem terra. As cenas foram repetidas a exaustão para convencer a sociedade que os sem terra são vândalos, criminosos e terroristas. Por outro lado, a mídia fez questão de esconder que, de acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a fazenda da Cutrale em Iaras (SP) é uma área pública grilada.

Imediatamente, a chamada oposição reacionária endureceu seu discurso com a criação de uma nova CPI contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e contra a atualização dos índices de produtividade rural prometida pelo governo Lula.

Mas o caso Cutrale foi apenas o mais recente pretexto das elites contrárias à reforma agrária. Desde que o governo Lula se comprometeu, em audiência com dirigentes do MST, a rever os índices de produtividade agrária, a mídia burguesa e seus jornalistas pré-pagos iniciaram sua ofensiva. A revista Veja aproveitou o caso e “requentou” informações para municiar o ataque. Logo após à audiência entre os sem terra e o governo, a Veja estampou em sua manchete: “Abrimos o cofre do M$T” com a chamada: “Como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra desvia dinheiro público e verbas estrangeiras para cometer seus crimes”. Ora, nada de novo havia para tal “reporcagem”, como bem definiu em artigo o jornalista Altamiro Borges.

O fato é que conseguiram aprovar a criação de uma nova CPI contra o MST.

Porém, assim como a mídia escondeu que a tal fazenda da Cutrale está numa terra grilada de propriedade do Estado, e que os pés de laranja foram plantados para evitar a desapropriação da área antes improdutiva, além de não informar para a sociedade que a Cutrale tem vários processos na justiça, inclusive por débitos trabalhistas; a mídia também omite da opinião pública que quatro deputados federais que assinaram o requerimento favorável à criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) contra o MST receberam doações da Cutrale, empresa que monopoliza o mercado de laranja do Brasil e acumula denúncias na Justiça.

Quanto vale um deputado?

Arnaldo Madeira (PSDB/SP) recebeu, em setembro de 2006, R$ 50.000,00 em doações da empresa. Carlos Henrique Focesi Sampaio, também do PSDB paulista, e Jutahy Magalhães Júnior (PSDB/BA), obtiveram cada um R$ 25.000,00 para suas respectivas campanhas. Nelson Marquezelli (PTB/SP) foi beneficiado com R$ 40.000,00 no mesmo período. Os quatro parlamentares que votaram favoravelmente à CPI integram a lista dos 55 candidatos beneficiados pela empresa em 2006.

O episódio do laranjal entra numa situação de confronto dos ruralistas contra o governo, contra o Incra e contra o MST. É importante ter clareza que o caso, se houvesse acontecido em outra conjuntura, não teria a mesma repercussão como teve após o anúncio da atualização dos índices de produtividade rural”, aponta João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.

“Apesar de o censo do IBGE [Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística] mostrar que os assentamentos são produtivos, os ruralistas não querem discutir modelos agrícolas e colocam uma CPI para alterar o debate. O MSTo tem nenhum problema em debater com a sociedade”, completa.

A Cutrale possui 30 fazendas em São Paulo e Minas Gerais, totalizando 53.207 hectares. Destas, seis fazendas com 8.011 hectares são classificadas pelo Incra como improdutivas. A área grilada de Iaras nem entra nesta conta.

Por conta do monopólio da Cutrale no comércio de suco e da imposição dos preços, agricultores que plantam laranjas foram obrigados a destruir entre 1996 a 2006 cerca de 280 mil hectares de laranjais. A empresa já foi processada por formação de cartel e danos ambientais e seus donos acusados por porte ilegal de armas de fogo.

O professor Ariovaldo Umbelino, em artigo publicado no Brasil de Fato, relembra que, numa reportagem de 2003, a insuspeita revista Veja denunciou a empresa Cutrale de ter subsidiária nas ilhas Cayman como forma de aumentar seus lucros, ou quem sabe de evasão fiscal. E em editorial, o Brasil de Fato, edição 347, sintetiza o comportamento das nossas elites: “Independente das pacatas laranjas e das manipulações da Cutrale/Coca-Cola, detentora de 50 mil hectares distribuídos por mais de 30 fazendas, as duas semanas que se seguiram deram uma demonstração cruel, do vandalismo estrutural e ideológico que domina as mentes e a política da classe dominante”.

Veja a lista dos Deputados que receberam doações e a lista dos que votaram a favor da CPMI, na fonte abaixo.


Fonte: Agencia Brasil de Fato

Após sucesso no YouTube, "Besouro" chega aos cinemas


30/10/2009

SÃO PAULO - Com 160 cópias, "Besouro" deve chegar nesta sexta-feira, 30, a quase 200 salas em todo o Brasil. O longa do estreante João Daniel Tikhomiroff cumpre uma trajetória rara no cinema brasileiro. "Besouro", inspirado na lenda do famoso capoeirista Besouro Mangangá, virou fenômeno na internet, com mais 530.503 mil acessos em apenas dois das dezenas de canais que o YouTube criou para abrigar o trailer.


Isso faz com que um público muito expressivo, e formador de opinião, tenha ajudado a difundir o conceito do primeiro grande filme nacional de artes marciais. Os próprios capoeiristas, nas sucessivas pré-estreias que levaram o diretor e sua equipe a todo o Brasil, elogiaram Tikhomiroff por haver desviado a capoeira do enfoque realista, documental, para explorar seu potencial cinematográfico.


Tikhomiroff não sabe o que esperar como resultado de público, mas está ansioso. Colegas diretores têm feito grandes elogios ao filme. Arnaldo Jabor chegou a ligar "Besouro" à tradição do Cinema Novo, o que para a atriz Jessica Barbosa, que faz Dinorá, foi um elogio tão grande que ela admite que não teve pudor nenhum em chorar lendo o texto.

"É tão bacana. O João (Daniel) fez um filme sobre a raça, que devolve ao negro sua autoestima e olha a religiosidade popular sem folclorizar. Acho tudo isso muito importante. Estou agora na capa da revista Raça por causa do filme. É bom para mim, mas é melhor para o Besouro. Vai dar ainda mais visibilidade. João não folclorizou o candomblé. O que ele faz para expressar na tela o mundo dos orixás é muito bonito. Eu própria fiquei tão fascinada por esse universo que agora leio e releio o livro de Pierre Verger." Ela se refere ao etnólogo e fotógrafo francês que investigou e documentou os orixás e os deuses iorubas na África e no Novo Mundo, preenchendo uma lacuna da cultura brasileira.

Ailton Carmo, que faz Besouro, está por estes dias incomunicável. Guia de turismo, ele está num lugar incerto da Chapada Diamantina, acompanhando um grupo. Curiosa trajetória de um astro brasileiro (que ele poderá vir a ser). Jessica Barbosa faz não apenas Dinorá, mas também Iansã. São duas faces da mesma mulher guerreira. Dinorá, como define a atriz, viveu adiante de sua época. "Ela luta capoeira, é a única nas rodas a tocar berimbau, João fez dela uma figura fascinante que eu tive muito prazer em interpretar.

Sendo as lutas tão importantes, Tikhomirof se aplicou para que elas saíssem perfeitas na tela. Ele trouxe ao Brasil um dos grandes especialistas da atualidade, o chinês (de Hong Kong) Chiu Ku-huen, mais conhecido como DeeDee, que coreografou as cenas de lutas, como fez na série Matrix. DeeDee ficou no Brasil durante oito semanas, primeiro preparando o elenco (quatro semanas) e depois, no set, acompanhando a filmagem de cenas como as das lutas entre Besouro e Exu, ou entre Besouro e quero-quero.

"A tradição diz que ele voava e o DeeDee facilitou que isso acontecesse, com seus cabos." No total, não mais do que 5% das cenas requisitaram o especialista estrangeiro. A cena decisiva da dança de amor não teve nada a ver com ele. DeeDee veio, coreografou, foi embora e a pós-produção se encarregou de apagar digitalmente os cabos. "Mas tem cenas em que Ailton (Carmo) voa por ele mesmo", avisa o diretor.

Fonte: Estadão Online

Trailer do filme:

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ingleses do Onslaught vem pela primeira vez à América do Sul


Em novembro, os ingleses do Onslaught desembarcam para uma série de shows pela América do Sul. Os shows fazem o fechamento da turnê South of Hell, do mais recente álbum da banda, "Killing Peace".

O Onslaught figura como um dos nomes de maior peso no cenário metal mundial. Com mais de 25 anos de carreira, a banda tem em seu primeiro álbum "Power from Hell", de 1985, um marco que aparece sempre entre os melhores discos de todos os tempos do gênero. Além desse disco, o Onslaught já lançou outros álbuns que não chegaram a causar o mesmo impacto do Power from Hell, como "The Force" de 1986 e "In Search of Sanity" de 1989.

Em sua primeira passagem pelo continente sulamericano, os ingleses prometem abordar no set list do show, toda a carreira, apresentando músicas dos primeiros discos. Abaixo, as datas que foram confirmadas até o momento e um vídeo da música que dá o título ao mais recente álbum, gravada ao vivo em 2007.

04/11 – Puerto Montt / CHILE
05/11 – Santiago / CHILE
06/11 – Buenos Aires / ARGENTINA
07/11 – Manaus / BRASIL – RIO NEGRO
08/11 – Belém / BRASIL – LUX
11/11 – São Paulo / BRASIL – MANIFESTO BAR
12/11 – Campinas / BRASIL – HAMMER ROCK BAR
13/11 – Curitiba / BRASIL - OPERA 1
14/11 – Belo Horizonte / BRASIL
15/11 – Rio de Janeiro / BRASIL - SÉCULO XXI
17/11 - Brasilia / BRASIL
19/11 - Costa Rica / TBC
20/11 – Cali / COLOMBIA
21/11 – Medelim / COLOMBIA
22/11 – Bogotá / COLOMBIA.


Fontes: Open The Road, Onslaught Official Site e YouTube.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

''Única diretriz pública é a do enfrentamento'', afirma socióloga

20/10/2009


O governo do Estado do Rio e a Secretaria de Segurança não têm "diretrizes explícitas" do que pretendem, "só metas numéricas, quantitativas", diz a socióloga Jacqueline Muniz. Professora do mestrado em direito da Universidade Cândido Mendes, no Rio, ela é especialista em segurança pública e autora da tese de doutorado "Ser Policial É Sobretudo uma Razão de Ser". Para Jacqueline Muniz, a "única diretriz pública é a do enfrentamento". A Secretaria de Segurança não comentou.


A entrevista é de Raphael Gomide e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 20-10-2009.


Eis a entrevista.


Como a senhora analisa a política de segurança no Rio?


Não há diretrizes explícitas, os princípios não estão claros. Só há metas numéricas, quantitativas. Quais são os objetivos? Não tem os fins. E o que se tem [de orientação] produz contradição e tensão entre os meios [materiais] e os modos como se faz, dando a impressão de que a polícia está despreparada. Não tem uma política clara, pactuada. A única diretriz pública é a do enfrentamento.


A que se refere quando fala de contradição?


Ao uso de helicópteros como arma policial de combate em operações em favelas. Helicóptero deve ser usado apenas em ações de resgate, observação e monitoramento. É o governo que escolhe politicamente os meios e estratégias a serem usados. A polícia paga o preço que não é só dela. A fatura é de todos. Ninguém se responsabiliza, é difuso. O que se vê é produto de decisão do governo.


A culpa é do governo?


Quando se compra um helicóptero, uma unidade móvel de assalto, de combate, arrisca-se o policial e o cidadão no chão. Os policiais podem morrer. Nada é inesperado. Dá a impressão de que foram pegos de surpresa. Chorar no túmulo do policial e do cidadão já está ficando cínico. O policial não tem condições de estabilidade e precisão para atirar lá de cima, de onde todos são iguais. O improviso se conflita com a doutrina da academia, e os agentes ficam submetidos aos fins políticos e sob questionamento permanente.


O helicóptero não resulta em superioridade tática?


Não pode ter tiro sem endereço. Perde-se a precisão e a responsabilidade sobre o tiro, que diferencia um policial. O helicóptero é inadequado e não produz superioridade, vive recebendo tiro. Não queremos helicópteros que caiam nem que policiais ou cidadãos morram.


Fonte: IHU - Instituto Humanitas Unisinos


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Arqueólogos acham objetos do século 19 na cracolândia

24/09/2009 - 09h21

RICARDO WESTIN
da Folha de S.Paulo


Um grupo de arqueólogos descobriu 2.344 utensílios domésticos do século 19 soterrados em plena cracolândia, a área mais degradada do centro de São Paulo.


Foram encontrados pratos, xícaras, moringas, vasos, potes e até penicos, entre muitos outros objetos, feitos de materiais como porcelana, cerâmica, louça e vidro e que ajudam a contar a história da cidade. A maior parte está despedaçada e será reconstruída.


Divulgação
Fragmentos de pratos de decoração do século 19 que foram encontrados no local, em uma área de 7.000 metros quadrados
Fragmentos de pratos de decoração do século 19 que foram encontrados no local, em uma área de 7.000 metros quadrados


"Foi uma grande surpresa. Normalmente não passa pela cabeça de um arqueólogo encontrar tantos vestígios tão bem preservados numa cidade como São Paulo", afirma Paulo Bava Camargo, do grupo Zanettini Arqueologia.


Localizada no meio de uma região onde hoje vagueiam viciados em crack --daí o apelido cracolândia--, a quadra em questão é delimitada pelas ruas Timbiras, Andradas, Aurora e General Couto de Magalhães e tem 7.000 metros quadrados. No local funcionou um estacionamento até o ano passado, quando o quarteirão foi desapropriado pelo Estado.


Ali serão erguidas uma escola técnica e a nova sede do Centro Paula Souza (entidade responsável pelas escolas técnicas e pelas faculdades de tecnologia estaduais). O governo de São Paulo quer os edifícios prontos até o fim do ano que vem.


Por exigência da legislação, o Centro Paula Souza teve de realizar uma avaliação arqueológica no terreno. Os arqueólogos foram à cracolândia em junho passado e viram vestígios de 150 anos atrás brotar logo nas primeiras escavações.


20 réis


Entre os achados há objetos nacionais e importados. Alguns são finos, cuidadosamente pintados a mão. Outros são rústicos e até mesmo defeituosos. Isso sugere que naquela quadra conviviam ricos e pobres.


"No final do século 19, São Paulo estava dividida. Havia os Campos Elíseos e a República, áreas de ocupação mais nobre, e o Bom Retiro, onde viviam os imigrantes, os trabalhadores. Era no meio delas que se dava o encontro [das classes sociais]", explica Bava Camargo.


Essa região era o coração de São Paulo. A poucos passos estão as estações ferroviárias da Luz e Júlio Prestes, construídas justamente naquela época.


No quarteirão escavado também foram encontradas pás, machadinhas, ferraduras e moedas -uma é de 20 réis, em cobre, e circulou entre 1868 e 1871. Isso mostra que, além de residencial, a área também tinha comércio. Os arqueólogos creem na existência, por exemplo, de uma estrebaria.


Segundo o arqueólogo Bava Camargo, o fato de não haver um sistema organizado de coleta do lixo -São Paulo só contou com esse serviço na virada para o século 20, em resposta a uma epidemia de febre amarela-, as famílias enterravam ou simplesmente atiravam os entulhos no quintal de casa.


O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) analisará o relatório redigido pelos arqueólogos para decidir o destino dos objetos históricos. Paulo Zanettini, o líder do grupo que fez as escavações, gostaria de vê-los expostos na própria região da Luz.


"Descobertas desse tipo mostram que o passado de São Paulo é muito mais rico do que se imagina", diz Bava Camargo.



Fonte: Folha Online